Acampados em frente à prefeitura desde a última sexta-feira, quando foram violentamente removidos da favela da Telerj, Sem Teto estão sobrevivendo como podem: “O que temos hoje aqui são as doações. Nem o banheiro químico deixaram botar”, conta Perla, uma das lideranças da ocupação.

Perguntada sobre como foi a desocupação, Perla indaga: “O massacre? Foi horrível. Eles chegaram destruindo tudo, sem direito a dialogar, sem conversa, não deixaram a gente tirar as crianças, os pertences. Perdemos tudo. Um dia antes, eles prometeram que ia ter o Ministério Público, assistente social, direitos humanos, conselho tutelar, mas não teve nada disso. O choque já veio, com tiro porrada e bomba. Quebrou com retroescavadeira por trás, e cercaram pela frente.

Perla revelou a frieza dos policiais: “Até cantos eles tinham. Diziam: ‘Sai! Vai sair por bem ou por mal!’ Começamos a gritar: ‘queremos moradia’, eles batiam no escudo e diziam ‘Vai trabalhar, vai trabalhar’. E foram botando todo mundo pra fora, jogando spray de pimenta. Barraco eles iam quebrando com o pé, com criança dormindo dentro. As crianças se intoxicaram, a gente disse que tinha criança ferida, não deixaram ninguém socorrer. Não deixaram a gente pegar nada, foi um massacre. O helicóptero vinha baixinho e jogava bomba também. Foi o caos.”

Hoje pela manhã uma comissão foi recebida na prefeitura: “Ofereceram um cadastro pelo CRAS ou pela internet, para gente esperar 10 anos pelo Minha Casa Minha Vida. E queriam nos levar para o abrigo, que disseram não ter vaga para todos.”

Perla explica a demanda dos Sem Teto: “Nós queremos moradia digna. Tantos prédios vazios que eles contruíram com dinheiro da gente, porque não podem dar moradia para o povo?”

Perguntada pela motivo de tanta violência, ela não titubeia: “Isso está acontecendo por causa da Copa. O pobre é lixo pra eles. O que vale é a reunião que ele vão ter amanhã da Copa, com gente de fora. Nós que estávamos lá dentro, a gente não serve pra nada. Só pra pagar imposto pra eles. Ninguém apareceu nem para saber se as crianças estavam bebendo água. Nunca foram lá pra negociar, só pra botar para fora.”

Ela e todas ocupação convocaram para o ato: “Amanhã faremos um protesto pacífico às 8h, aqui em frente à Prefeitura. Queremos parar o Rio de Janeiro para eles olharem para o pobre, para o favelado. Jogaram a gente na rua como um lixo, sem direito a nada.”

Fonte: MST