O Núcleo Maria Conga e Andorinhas, do CRESS RJ, promoveu, na tarde desta quarta-feira, na Secretaria Municipal de Saúde de Itaboraí, o debate sobre o impacto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) nas políticas sociais dos munícipios do leste fluminense. O objetivo do evento era identificar como os megas empreendimentos modificam a atuação das assistentes sociais no atendimento aos usuários. Cerca de 70 pessoas compareceram ao debate, a maior parte composta de assistentes sociais.
Compuseram a mesa Altinéia Neves, assistente social e pesquisadora do Grupo de Estudos em Serviço Social, Trabalho e Meio Ambiente (Gesta), da UERJ; o professor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz Luciano Toledo e a assistente social e coordenadora de gestão do SUAS de Itaboraí, Andréa Baptista.
Em 2006, quando o ex-presidente Lula anunciou a construção do Complexo, a Fiocruz foi convocada para realizar um diagnóstico sobre os desafios na saúde dos munícipios que seriam impactados diretamente pelo Comperj. O professor Luciano Toledo pôde verificar que as cidades de São Gonçalo, Itaboraí e Tanguá estavam entre as piores no ranking de problemas com o abastecimento d’água e índices de dengue.
“A situação de saúde que encontramos não era favorável. Vivia-se uma crise no setor, tuberculose, dengue e hanseníase eram as doenças mais comuns por aqui. Quando há um processo migratório desse tamanho, vai sempre se produzir, simultaneamente, riqueza e pobreza. Existe um contingente populacional que não recebe os benefícios desse desenvolvimento, trazendo uma nova organização do espaço. Atualmente a população ainda sofre com esses problemas. No entanto, a rede de assistência social se ampliou, esse é o fator para melhora desse quadro”., pontuou.
Já a assistente social Altinéia Neves alertou a categoria lembrando que cerca de 50 mil funcionários, de acordo com a Petrobras, passariam pelas obras. Para isso, ela comparou a implementação do Comperj ao que aconteceu no munícipio de Macaé, Norte Fluminense, que viu a cidade crescer por causa do petróleo, mas a falta de políticas sociais ocasionou a pauperização de parte da população.
“O Comperj foi anunciado sob o grande desenvolvimento econômico. Muitos vieram para a região sem empregos, acreditando que iriam mudar de vida. E quando a obra acabar? Eles vão ficar no entorno, sem empregos. Daí surge uma demanda que as assistentes sociais devem estar atentas e preparadas. Pois o nosso compromisso é defender a classe trabalhadora.”, afirmou. E para fechar, Altinéia se referiu a uma frase de Marilda Iamamoto: “A vivência do trabalho tem centralidade na vida dos indivíduos sociais”.
Para fechar o debate, Andréa analisou o impacto do setor petroquímico sob a perspectiva dos usuários, que muitas vezes dependem das políticas sociais para manterem famílias.
“Devemos atender o usuário como caminho para a transformação dele. É preciso leva-lo a uma reflexão crítica. Quando eles chegam aqui, não se sabe qual é a perspectiva de continuidade no emprego. As assistente sociais devem estar atentas sempre ao diagnóstico, a contextualização e ao projeto ético-politico profissional. Só assim conseguiremos que os benefícios socioassistenciais sejam válidos”., destacou.
Durante o debate, o Núcleo Maria Conga e Andorinhas também programou o tema do próximo encontro, ainda está sem data definida, que será sobre o projeto ético-político da categoria. A reunião também contará com atividades culturais, como música e poesia.